Possam meus tristes lábios despender;
Para sempre abandone-me a esperança,
Se eu de ti me esquecer.
Neguem-me auras o ar, neguem-me os bosques
Sombra amiga, em que possa adormecer.
Não tenham para mim murmúrio as águas
Se eu de ti me esquecer.
Em minhas mãos em áspide se mude
No mesmo instante a flor, que eu for colher;
Em fel a fonte em que chegar meus lábios
Se eu de ti me esquecer.
Em meu peregrinar jamais encontre
Pobre albergue onde possa me acolher;
De plaga em plaga, foragido vague
Se eu de ti me esquecer
Qual sombra de preceito entre os viventes
Passem os míseros dias a gemer,
E em meus martírios me escarneça o mundo,
Se eu de ti me esquecer.
Se eu de ti me esquecer, nem uma lágrima
Caia sobre o sepulcro em que eu jazer;
Por todos esquecido viva e morra,
Se eu de ti me esquecer.
BERNARDO GUIMARÃES