Você não pode ter dúvida quanto a ter sido criado para ter paz e alegria. O que deve ocupar o nosso coração não é um sentimento fúnebre, mas a celebração da vida e do amor.
Então, por que isso quase não acontece, de fato? Eu creio que uma das razões é o fato de não usarmos todo o nosso potencial. Especialistas dizem que a maioria de nós não alcança mais do que 10% dos seus sonhos, vê apenas uns 10% da beleza natural que nos cerca, ouve apenas 10% da música do Universo, sente apenas 10% das fragrâncias e experimenta pouco mais que 10% das coisas boas que estão à nossa disposição.
A verdade é que a maioria das pessoas é alcançada pela morte sem que vivam e amem como Deus planejou para nós.
Isso é muito triste e assustador. É detestável aceitar que você e eu morreremos sem realmente termos vivido e amado em todo o nosso potencial. Somos muito complexos!!! Temos uma parte visível e uma invisível, bem como necessidades e vontades nos aspectos físico, psicológico e espiritual. Quando qualquer um deles é frustrado, todo o nosso organismo sofre.
Uma das maiores necessidades psicológicas é a de amar e ser amado. Todos nós conhecemos o amor erótico (Eros), o amor emocional ou romântico (phileo) e o amor que Deus demonstra por nós (ágape). Todos são muito importantes na nossa vida, mas não podemos ignorar que existe uma outra forma de amor sobre o qual pouco se fala ou escreve. É o amor estorge, identificado no amor paternal e maternal, ‘que aceita como está’.
Esse amor preenche uma grande necessidade do ser humano, que é a de sentir-se pertencente, participante, aceito em uma família, clube, Igreja, grupo de amigos, ..., é o que o faz sentir-se seguro e protegido, e dá certeza de obter refúgio acolhedor diante das adversidades do dia-a-dia.
Você já parou para pensar em quantas crianças, no mundo todo, nunca tiveram a chance de receber esse amor?!!! Crianças abandonadas, crianças nascidas na absoluta pobreza, crianças rejeitadas, ... É muito provável que, mais tarde, por essa razão, muitas tenham dificuldade em praticar esse amor em seu casamento.
Uma das maiores necessidades da criança, em especial dos adolescentes e dos jovens, é a segurança de uma relação de aceitação e amor incondicional que supra essa carência de amor estorge. Quando não há uma relação saudável, o filho cresce com uma autoimagem distorcida. Muitos vivem hoje uma vida desastrosa por não haverem recebido dos pais e circunstantes a expressão de aceitação, de afirmação e da comunicação do amor – e a história vem se repetindo!
Esse texto bíblico acima é uma das melhores ilustrações bíblicas a esse respeito. Imagine o Jefté como criança, adolescente, jovem e adulto. O pai dele era um homem levianamente infiel. Muitas pessoas carregam profundas marcas provocadas pela infidelidade dos pais. É difícil imaginar a dimensão da influência de um pai assim, já que nós temos diferentes reações diante das mesmas situações.
A mãe dele era uma prostituta, o que, com certeza, é uma situação muito constrangedora para qualquer jovem em qualquer época ou cultura.
Era rejeitado em casa, onde nunca experimentou o confortante sentimento de ser aceito, querido e amado com o amor estorge. Vivia em um lar dominado pelo ressentimento e, por isso, devia ter um coração amargurado.
Foi expulso de casa! Mas queria sentir aquele amor. Foi em busca dele. Encontrou? Sim!!! Mas, aonde? Numa gangue de vadios que o “aceitaram” e o fizeram sentir-se amado e seguro. Uma gangue, a Máfia de Tobe.
Essa história tem se repetido em milhões de lares até mesmo no âmbito da Igreja. As necessidades humanas continuam as mesmas e, se não forem atendidas no lar, por certo o serão em outro lugar e através de outro grupo. E muitas vezes esse grupo conduz às drogas, ao álcool, ao sexo ilícito e a todo tipo de violência. Que tipo de pessoas você imagina que compõem os Black blocks de hoje no Brasil?
Será que eles se sentiram amados e aceitos na família? Que sempre haveria um lugar especial para eles no coração de cada um ali?
A família deve ser uma espécie de centro terapêutico para abrigar os feridos, rejeitados e abusados. A instituição Igreja, também! Se não fizermos isso o casamento perderá muito do seu sentido e se tornará insuportável.
Todos nós precisamos amar e ser amados com o amor estorge. Não seremos tudo que podemos e precisamos ser, se nossa necessidade de pertencer não for devidamente preenchida.
Precisamos ‘abrir os nossos olhos’ para a situação da nossa família e da Igreja quanto a esse aspecto. O que temos feito afinal?
Que Deus nos ajude a formar famílias e Igrejas que sejam dinâmicas e sabiamente acolhedoras para que haja um refúgio confiável e seguro para os que as compõem.